Marcos Bosco Dias
20 Feb
20Feb

Me desculpe, mas preciso ser sincero, o pequeno pássaro do título é apenas uma alegoria de como me senti ao me ver no meio da situação da qual quero tratar neste texto. Na verdade essas palavras falam de um assunto que a maioria esmagadora dos pais prefere deixar de lado, guardado em algum cantinho secreto ou então imagina que pode ser de um jeito totalmente diferente. A chegada da adolescência e o crescimento dos filhos. Se você decidiu ou teve a oportunidade de ser um pai presente e ativo na infância dos seus filhos, leia com atenção, você muito provavelmente não estará preparado para esse momento e será acertado bem em cheio por um trem desgovernado, trem esse que até pouco tempo necessitava ser guiado e mantido por você. É como se uma nova função fosse de repente ligada na cabecinha deles - que já nem é tão pequena assim - e uma nova programação fosse instalada, tudo parece virar de cabeça para baixo exatamente como a canção do havaiano Jack Johnson. 

De repente, ao lembrar dos nossos tempos de juventude e de nossos pais, percebemos que o que nos une aos filhos são duas linhas invisíveis, totalmente diferentes entre si. Uma é a que os mantém perto durante toda a infância, tem a ver com conexão, dedicação, amor e cuidado, é ali que estão as brincadeiras, as risadas, as noites de filme e pipoca, as descobertas, os choros de dor, os choros de birra, a necessidade de amparo e dependência deles para conosco, essa linha é frágil e de repente se rompe e não segura consigo esses momentos e situações, ela se rompe abruptamente no exato momento onde eles percebem que estão crescendo e que há um mundo além das portas e janelas de casa e que há muito mais do que brincadeiras e segurança, segurança essa que durante muito tempo esteve totalmente sob nossa direção. 

Perceber que eles não dependem mais tanto de você e que no fundo até querem e precisam se distanciar do que você representa, é o trem que citei acima, ele vai te atropelar e te empurrar todo machucado para um lugar desconhecido e ali um vazio vai se abrir diante dos seus olhos te deixando absolutamente atordoado, pelo menos eu fiquei assim, sigilosamente aos prantos por vários dias, era como se houvesse milhões de borboletas no meu estômago, todo um propósito havia sido apagado sem aviso prévio, uma sensação terrível de impotência e desespero, algo que amo tanto está querendo se distanciar de mim, alguém que esteve sempre em todos os meus planos, de repente não quer mais fazer parte de quase nada, é triste, porém, incontrolável por ser natural e a natureza por mais bela que seja não pede licença para nada, nenhuma onda pede licença para quebrar na praia.

Você vai precisar de um tempo para se curar, se ajustar e voltar a construir um novo propósito, uma nova missão, é normal que nesse momento você se sinta frustrado, raivoso, incapaz e muito triste. - Se isso tudo crescer muito dentro de você, procure ajuda. É importante tentar sacudir a poeira logo para que a tristeza não seja muito grande, lembre-se, antes de serem grandes, os baobás são pequenos e é possível contê-los. Eu senti a força dessa natureza, corria de cima a baixo dentro de mim, pulsando forte na forma dos mais variados sentimentos, - sem esconder nada - é a natureza, é a nossa natureza humana. Tentar segurar é perder tempo, a onda vai bater no seu guarda-sol e vai bagunçar tudo e nessa hora ou você simplesmente perde a calma e desiste de tudo, ou você também perde a calma, mas respira fundo e recolhe tudo o que foi espalhado pelo impacto. Respire, é muito importante.

lembre-se, antes de serem grandes, os baobás são pequenos e é possível contê-los.

Então quando a tormenta passar você vai olhar em volta e perceber que restou a segunda linha, esta vai estar ali amarrada em algum lugar de você, é inquebrável e desenrola a cada passo que seus filhos dão, eles a têm muito bem presa a eles, ela pode, dependendo do tamanho que for necessário atingir, se enrolar e se enroscar aqui e acolá, fazer uma volta aqui e ali e por isso mesmo, às vezes vai esticar ao ponto de parecer que assim como a outra vai estourar, mas de repente ela desenrosca e por mais que seu filho esteja do outro lado do mundo ela sempre será o caminho de volta para todos nós, é ela que nos levará a novas fases dessa relação tão potente e ao mesmo tempo tão frágil, tão natural, é ela que vai nos mostrar o caminho do lugar onde estão guardadas todas as lembranças e ensinamentos, por fim é ela que nos liga a eles quando eles viram gente grande e gente grande erra, erra muito, basta olhar para nós mesmos, gente grande.

A quem está prestes a chegar a essa fase, prepare-se para estar despreparado, mas à medida que nossos filhos crescem, podemos nos concentrar e nos esforçar em construir um novo tipo de relação, baseado no respeito e entendimento mútuo e na admiração e apoio, em vez da dependência e simbiose. Essa fase oferece oportunidades para aprofundarmos o vínculo de maneiras que não eram possíveis na infância e um caminho para a chance de se envolver em diferentes tipos de conversas, explorar novas atividades juntos e continuar a apoiar a independência e o desenvolvimento dos filhos que um dia serão pais e assim a natureza seguirá, implacável. Ela não pede licença e com perdão do clichê, criamos os filhos para o mundo.



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